Lava Línguas

Quando ficava nervoso tinha que ir á casa de banho escovar a língua, desde que viu um tik tok hopelesscore sobre as milhentas bactérias que se alojam no céu da boca, só as conseguia imaginar de motor flagelar a mil à hora com o sonho de alojar-se em bronquios. A reunião não estava a correr nada bem. As loucamente rentaveis ultimas décadas ameaçavam futura perda valor para os acionistas, que é o fim do mundo para uma IPO. Depois de quarenta anos de medos cancerigenas de tal forma evidentes que já nem o lobby extremo conseguia acalmar, a UE decidiu proíbir de uma vez por todas a sua maior fonte de receitas. Por isso escovava e escovava. O que iria fazer com todo este excedente industrial? Só aquela peçazinha - cujos microsplaticos largados arriscavam mais em vários graus de grandeza a sua saude que quaisquer bactérias liguais, e que devido à Boeing que por instabilidade de balanços vendeu uns quantos aviões mal calibrados que depois de cinco acidentes levaram a que quase ninguém quisesse voar naquele país, reduzindo os preços dos voos e por isso os custos de distribuição, valorizando-a em apenas 1,99$CAN - já passou por mais de 40 mãos e 18 países. Como é que se desfazeria daquilo? Nos 70 tentaram enterrá-lo, mas as vacas morreram, parece que oito moléculas de carbono em cadadeia têm radicais livres suficientes para ionizar (e bem) o genoma. Péssimo negócio, visto que as vacas não compram fármacos.

A sua mais recente investigação sequenciava strips de RNA que treinavam o sistema imunitário a reconhecer células cancerigenas como ameaça, processo esse que causa ainda mais mutações, há que manter os clientes agarrados.

O camionista que mesmo com um QI de 80 - descoberto quando lhe bateram à porta da casa de campo, onde as ultimas 12 gerações se dedicaram à agricultura, para o sentar diariamente frente a um recem-literado a bater com um pau em 24 outras crianças, onde ele não tirava os olhos da janela imaginado-se a correr, e por isso diagnosticado com PHDA no 20º percentil de inteligencia - achava estranho que extamente no sitio onde usava um BT Headset lhe tenha aparecido um cancro aos 40. Mesmo sem saber dos efeitos histológicos do stress oxidativo na reprodução celular causados por frequências RF, sabia que ‘havia gato’ (suas próprias palavras). E quando tentava avisar os colegas, diziam que ele era maluco. Afinal, ‘ele não tinha parte do cérebro’. E ele nem sabia que quem lhe vendeu o dispostivo bluetooth, foi quem lhe vendeu a quimio e a radioterapia. ‘Coisos bluetooth, nunca mais’ dizia equanto batia em modo prepartivo o maço de cigarros produzidos pela empresa que anos mais tarde lhe insuflou os pulmões no hospital.

A gigantesca maquina que carrregava as paletes de pontas em nylon fazia ao deslizar no polimero de chão um som que o cérebro do seu condutor associava aos dos dispositivos que mulheres punham nas suas zonas erogenas em videos online quando chegavam a um certo número de views e ficava imediatamente ereto e hesitante pelo intervalo onde cocheava até aos lavabos para se ejacular sobre uma simualação pictórica de mulheres do leste a quem a promessa de uma vida ocidental levou ao uso e abuso do seu sistema reprodutor à frente de uma camera.

Equanto esfregava a lingua lembrava a ambição paterna que os levou ali, dos braços fortes que o levaram ao hospital para ser parido da barriga da mulher de maxilar partido, do alcoól que aprendeu a beber virilmente ainda antes de aprender a bater entre as virilhas ou no peito para não levantar suspeições. Tenho que ser criativo. É por isto que as corporações adoram ‘artistas’. Só eles se lembrariam de enfiar o fluoreto de sódio excedente de fertilizantes de fosfato em tudo o que é produtos de dentes porque o nome soa a flúor. Causa mais cáries, quistos, infeções? Não há venda mais fácil do que a alguém em dor. Só eles pensariam em aproveitar o excedente de produção automóvel e nomeá-las de ‘gorduras vegetais’ e ‘óleo de sementes’. O dinheiro que não se faz em pacemakers. Ele só precisava de um move semelhante.

Foi no cubiculo de WC agarrado a um scroll infinito vendo um homem a comer cocó de cabra que por nos ultimos segundos anunciar um hamburguer 100% natural (feito de aditivos) lucrava 10k - o suficiente para compensar o sabor e as ocasionais gastrointrites (às vezes pensava em voltar ás drogas, não por vício ou pela pedra, mas porque só lhe inventavam uma cultura comunitária quando virava narcótico, alcoólico ou psicótico. até lá - estava por conta própria) que teve uma ideia.

Por desespero dos traumas sexuais do colégio, fingia que acreditava que havia sentido para as coincidencias, mas quando lia a bíblia saltava o genocidio dos cainitas porque se convencia sempre que eramos uns. Sempre que balburdiava sobre temas religiosos pediam-lhe que calasse a puta da boca e se preocupasse com alguma coisa de jeito, não são precisos textos canonicos para perceber que está tudo fodido. Mas ele achava o uso de palavrões muito deselegante e sinal de mente fraca. No único sitio onde disse ‘Deus’ sem ninguém fazer cara de gozo ou pena, um brasileiro de batina veio-se na sua cara menor equanto ele chorava para pararem.

Desde que o algoritmo do google percebeu que criar sustos médicos gerava mais cliques em anuncios de fármacos e clinicas que ele temia um cancro escondido. Pesquisar sintomas era ler a sina de morte iminente. E se só serve a publicidade para criar ansiedades satisfeitas pelo consumo, haverá melhor ansiedade que o medo de morrer? Gastava os poucos milhares que lhe davam para decidir a melhor frase para descrever uma prateleira ‘leve, prática, duradoura’ ou ‘estável, robusta, sólida’ a saltar de consultório em consultório, a ser exposto a radiação ionizante para chegar à conclusão que ainda não é desta que se livra do vazio existencial.

Mas ele tinha que pagar a sua vida, os seus copos, as suas rendas. E a ideia era simples, mais uma molécula de carbono. Tudo igual, mas é legal.

O quinto copo no 17º andar não lhe deixava uma pinga de remorso em decidir o fim da vida de milhões, porque ele sabia que eram todas como a dele. Ele dizia que não escolheu este mundo, mas sabia que escolheria o seu fim.

Escrito em 4 de Maio 2025